Sim, pela paz e pela vida, ou Não, pela continuidade da escalada de violência que coloca o Brasil como um dos países onde mais se mata e mais se morre por arma de fogo no mundo todo. Independente do resultado do referendo, a vitória será da sociedade. A consulta popular é a maior prova da solidez e da maturidade de nossa democracia.
O debate em torno da proibição da venda de armas de fogo ganhou as ruas, mobilizou a atenção de trabalhadores, empresários, estudantes, parlamentares, donas de casa, gente rica e gente pobre. Mais que nunca, colocou no centro da discussão um dos problemas mais graves do Brasil: a violência. A possibilidade de decidir, pelo voto, questão tão importante fez com que cada um de nós tivesse consciência de que podemos ¿ e devemos ¿ ter participação ativa nos rumos do país.
E o país com que sonhamos não é, por certo, um onde 36 mil pessoas morrem, a cada ano, vítimas de armas de fogo. Ou onde essas mesmas armas já deixaram cerca de 250 mil pessoas paraplégicas. Um país onde o medo e a insegurança acabam gerando um ciclo vicioso, com o aumento do número de armas em poder da população alimentando o crime e gerando cada vez mais vítimas.
Nos últimos dias, duas notícias ganharam as primeiras páginas dos jornais: a morte de um torcedor baleado numa briga depois de um jogo de futebol e a de um estudante atingido por um tiro acidental quando um colega de escola mostrava um revólver que levava na mochila. Os crimes não foram cometidos por bandidos. As armas vinham do comércio legal, supostamente compradas para legítima defesa.
São notícias que nos dão a plena certeza de que a venda de armas só tem como conseqüência o enriquecimento da indústria bélica e o aumento da violência. Como defender o suposto direito à legítima defesa, diante de assassinatos tão estúpidos quanto este, motivado por uma briga de torcidas? Ou de tragédias que tiram a vida de centenas de crianças e adolescentes, encantados diante de uma arma comprada pelo próprio pai, pelo pai de um colega, por um vizinho?
O alerta veio da Unesco, depois de uma pesquisa com dez mil alunos em cinco capitais brasileiras: 12% dos nossos estudantes já viram ou tiveram contato com revólveres dentro da própria escola. Em números absolutos, isso significa que 205 mil alunos estiveram próximos de uma arma de fogo enquanto deveriam estar estudando.
A pesquisa só reforça o que já sabemos: nossos jovens são as maiores vítimas das armas de fogo. São elas que respondem por uma em cada três mortes na faixa de 15 a 24 anos.
É claro que a violência tem raízes mais profundas, na miséria, na exclusão social na impunidade, em leis defasadas e em falta de recursos. É claro que precisa ser combatida com uma política de segurança pública efetiva, investimentos maciços, medidas que dêem mais agilidade à nossa Justiça.
A luta pela proibição da venda de armas de fogo foi um primeiro passo. A briga por mais investimentos sociais e na área de segurança exige fôlego ainda maior. Por isso mesmo, nossa preocupação ao apresentar, na última semana, uma Proposta de Emenda Constitucional estabelecendo percentuais mínimos de gastos com segurança pública: 15% para a União, 7% para os Estados e 1% para os municípios. O contingenciamento dos recursos fica terminantemente proibido.
A aprovação desta emenda, tenho certeza, vai nos colocar bem mais próximos de um Brasil mais justo e menos violento. Essa, sim, é o país com que todos sonhamos.
