100 anos sem Rui Palmeira

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB – AL) – Sr. Presidente, Senador Fernando Collor, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, familiares do Senador Rui Palmeira, Wladimir, Moacir, Miguel, Nadja, Godofredo,
Deputado Rui Palmeira, todos os familiares, quero a todos saudar, cumprimentando o valoroso homem público, Deputado Estadual, Governador de Alagoas, Ministro e Presidente do Tribunal de Contas da União, Senador Guilherme Palmeira, que é um amigo muito querido, da melhor convivência nesta Casa do Congresso Nacional e também com uma larga folha de serviços prestados ao País e à democracia.

Senhores convidados, ministros dos tribunais superiores, aqui, no Senado, Sr. Presidente, todos sabemos dos laços de fraterna amizade, de amizade sincera, que me ligam ao Senador Guilherme Palmeira.
Venho hoje a esta tribuna, com muita honra, para homenagear o centenário de nascimento do Senador Rui Soares Palmeira, ilustre conterrâneo e um destacado representante de Alagoas no Senado Federal.
É justa e merecida, Sr. Presidente, a homenagem que o Senado hoje presta a esse memorável líder Rui Palmeira. Porém, mais do que tudo, se trata de verdadeiro resgate do papel histórico no cenário político nacional e de Alagoas. Rui Palmeira, além da política – já foi dito – dedicou-se à advocacia, ao magistério, à imprensa e à agricultura.
Mas, se há, Sr. Presidente, Srs. Senadores, um traço marcante na biografia do Senador Rui Palmeira é o fato de ele ter dedicado toda sua vida ao ideal da democracia. E se me permitem os Srs. Senadores e as Srªs Senadoras, passo a fazer uma abordagem – digamos assim – mais política da vida do Senador Rui Palmeira.
De fato, seu compromisso com o pensamento democrático, renovador, progressista e com o liberalismo clássico – podemos chamá-lo assim no melhor sentido do termo – jamais foi abandonado ao longo de sua intensa e produtiva atividade político-parlamentar. Rui Palmeira, ainda jovem, foi um defensor da Aliança Nacional Libertadora que, na Revolução de 30, quebrava a hegemonia paulista e mineira na política brasileira. E esse, Sr. Presidente, Srs. Senadores, é o aspecto de sua personalidade que, verdadeiramente, desejo focar.
Sua identificação com as ideias progressistas teve na Aliança Nacional Libertadora, nessa histórica frente de caráter nacional, popular e democrática, um grande escoadouro. Dela, participaram, em Alagoas, nomes ilustres como Graciliano Ramos e Sebastião da Hora, este último como Presidente da Aliança em Alagoas, e tantas figuras proeminentes de trabalhadores, camponeses e intelectuais.
A Aliança Libertadora Nacional, da qual Rui Palmeira foi um dos líderes mais representativos, era, como disse, Sr. Presidente, Srs. Senadores, um movimento de caráter nacional que chegou a congregar milhares de militantes por todo o Brasil e tinha um enorme prestígio popular.
Apesar das advertências de Rui Palmeira, esta aliança acabou aos poucos perdendo densidade, perdendo sua força social em decorrência de uma visão, digamos assim, míope, mesmo equivocada dos seus segmentos mais à esquerda, que, circunstancialmente, conduziram a Aliança Libertadora Nacional, através dessa tática, digamos assim, sectária, a um isolamento condenável.
O Partido Comunista foi, como consequência disso, uma das primeiras vítimas dessa visão equivocada, distorcida, tendo vários de seus militantes e quadros destacados, como alvos de campanhas persecutórias, da perseguição mesmo mais mesquinha, torpe e brutal.
Rui Palmeira, Sr. Presidente, Srs. Senadores, apesar de não defender o isolamento, esse esquerdismo, sempre esteve, corajosamente, e não era fácil sê-lo, ao lado dos aliancistas, naqueles momentos mais duros, mais dramáticos da história do País.
E aí, Sr. Presidente, restam sobejamente demonstradas a solidariedade, a coragem, o humanismo e a lealdade às ideias do Senador Rui Palmeira.
O mesmo aconteceu, mais tarde, no período da redemocratização do País, época em que a Nação despertava para os novos ventos da liberdade.
Estávamos, Sr. Presidente, em 1945, justamente após a 2ª grande Guerra Mundial, quando as forças aliadas saíram vitoriosas no confronto nazi-fascista.
E aí, mais uma vez, Rui Palmeira cresce e se agiganta. Em Alagoas, Sr. Presidente, Rui orienta a UDN para a aliança com os segmentos democráticos e populares.
Nesse período, portanto, a UDN, sob a liderança e forte convencimento intelectual e político de Rui Palmeira, junta-se aos Deputados constituintes mais progressistas da Assembleia Legislativa de Alagoas.
E essa aliança se deu, inclusive, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores – é importante destacar – com os três Deputados comunistas eleitos em nosso Estado, como consequência do grande prestígio e influência da União Soviética e do Partido Comunista, no Brasil, após, repito, a vitória dos aliados em 1945, na 2ª Guerra Mundial.
Mas, como todos sabem, o intervalo democrático durou pouco. Em 1947, a Bancada Federal na Assembléia Nacional Constituinte do PcdoB é cassada, incluindo entre suas vítimas o Senador Luís Carlos Prestes, liderança nacional dos comunistas e figura histórica da vida política brasileira, que havia conseguido se eleger para o Senado, com expressiva votação em vários Estados da Federação.
Mais uma vez, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, coerente com seus princípios e com o seu pensamento corajoso Rui Palmeira conduz a UDN alagoana, através do seu líder na Assembléia Legislativa de Alagoas, Deputado Melo Mota, a defender, com vigor e, intransigentemente, os mandatos dos deputados comunistas André Maria Papini, José Maria Cavalcante e Moacir Andrade, perseguidos e depois cassados, naquele momento tão difícil do governo Dutra.
Momentos difíceis para o Brasil e também para Alagoas.
Posteriormente, Sr. Presidente, Srs. Senadores, o período mais delicado do regime militar de 1964, nos anos de chumbo, Rui Palmeira continuou demonstrando em vários episódios coragem e patriotismo, ao enviar telegrama ao Presidente Costa e Silva, manifestando, já doente, sua posição contrária ao Ato Institucional nº 5. Nem a doença, Sr. Presidente, que o debilitava impediu que ele tivesse mais este ato de ousadia e destemor.
E o Senador Ney Braga, em histórico aparte ao Senador Teotônio Vilela – o saudoso menestrel das Alagoas –, revelou haver testemunhado recomendação de Rui Palmeira, naquele período de insegurança institucional durante o endurecimento, às vésperas da edição do próprio AI5. Não é hora para fraquezas, disse Rui e o Ney Braga testemunhou, não é hora para covardes, mas também não é hora de imprudências.
Quando nós temos, em nossas mãos, o destino da nação.
São lições, Sr. Presidente, Srs. Senadores, de patriotismo e grandeza, cuja contemporaneidade nunca se perde.
Portanto, Srªs e Srs. Senadores, era esse aspecto, digamos assim, mais político que gostaria hoje de enfatizar, que queria exatamente ressaltar nesta sessão inesquecível e histórica. E o faço, Sr. Presidente, Srs. Senadores, de maneira singela, modesta, sem o imprescindível aprofundamento historiográfico, quando o Senado celebra o centenário desse grande brasileiro, desse homem público íntegro, leal, e com as suas concepções pluralista na conveniência e avançado para o seu tempo. Tanto que, no seu centenário de seu nascimento, Rui Palmeira continua atual e contemporâneo.
Rui Palmeira, Sr. Presidente, Srs. Senadores, deixou para os filhos e parentes o legado do compromisso com a democracia, com a justiça social e com o Brasil desenvolvido, solidário, justo, igualitário e menos desigual. Legado que os filhos, no pensamento e na prática, souberam honrar e perpetuar.
Guilherme Palmeira, em nome de todos, presto aqui as minhas mais sinceras e modestas homenagens a esse grande homem que foi o Senador Rui Palmeira.
Muito obrigado.

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