INVENTÁRIO DE UMA CRISE

Em 2007, o Senado atravessou uma crise política urdida na expectativa de abalar a sustentação congressual do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No contexto político, a presidência do Senado Federal conferia-nos uma delicada posição institucional em prol da governabilidade. O episódio envolveu oponentes do governo, alguns ressentidos da bancada do PT no Senado e adversários de Alagoas.

 
Num cenário que explorou um drama da minha vida pessoal, íntima e familiar, foram rabiscadas, por uma concorrente da política alagoana, várias representações, que induziram um processo de demonização de 200 dias. 
Como predominavam as paixões e os interesses políticos, verificamos a necessidade de uma apuração técnica, distanciada da irracionalidade que orientava os comportamentos.
Solicitamos, então, à Procuradoria Geral da República e à Receita Federal que investigassem as denúncias. Um caso raro de pedido de auto-investigação. 
Demos respostas a todas as acusações que, a cada dia, tomavam formas diferentes. A cada boato desmentido, logo surgia um outro. Todos eles desfeitos com fatos e provas.
Inicialmente acusaram-nos de ter contas pessoais pagas por uma empreiteira. Uma imputação devastadora, se verdadeira fosse. 
A propósito, uma ressalva: compreendemos a contundência dos discursos e matérias jornalísticas que jorraram sobre as versões acusatórias. Era sedutor o direcionamento das invectivas ao presidente do Senado Federal. A possibilidade de uma crise política, fascinante.
Sobre essa moldura rascunhou-se o desenho dos processos ético-disciplinares.
Fizemos o que estava ao nosso alcance: oferecemos ao Senado e ao Conselho de Ética nossos dados bancários, fiscais e contábeis. E tudo o mais que solicitassem. Sem limites. Não tivemos alternativa, senão recorrer à prova negativa, conhecida como diabólica, por suas dificuldades. Lutamos em campo aberto para que a verdade prevalecesse, como prevaleceu. 
Humildemente, enfrentamos todas as etapas do processo. Tanto no Conselho de Ética quanto no Plenário, os senadores foram implacáveis. Todas as circunstâncias foram exaustivamente examinadas e debatidas. 
Ao final, fomos absolvidos. Das acusações, no Senado, nada restou. É o que preconiza a Constituição, por cuja trilha os alagoanos nos outorgaram um novo mandato. Pleno e sem ressalvas, como devem ser todos os mandatos eletivos.
Promovemos medidas judiciais para que nossos detratores comprovassem os fatos de que nos acusavam. Nenhum deles o fez.
Antes de condenar é preciso julgar e julgar exige conhecimento integral da verdade. E fomos julgados e inocentados cinco vezes. Não é pouco. Onde há absolvição não existe culpado.
Em qualquer Estado de Direito a acusação desaparece com a absolvição. Sobrepor a primeira à segunda, seja qual for o pretexto, é subverter a ordem jurídica. Uma intolerância. No mínimo.
Fora disso estaríamos diante do preconceito, que é  a deturpação derivada de convicções e esteriótipos. Manisfestações que, infelizmente, não cessaram com a minha absolvição.  
O preconceito, nocivo por natureza, não convive com o regime democrático. A tentativa de imposição de sanções político-morais em afronta às decisões absolutórias importa, mais do que uma constrição cívica recorrente, numa negação insidiosa do Estado de Direito.
Somos titulares de um mandato de Senador da República, legitimamente conferido pelo povo alagoano. Temos o dever de defendê-lo e exercê-lo em toda sua amplitude, protegendo-o de todas as  tentativas de amesquinhá-lo. 
Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, em 09/05/2011
Compartilhe este artigo

Artigos relacionados

Entrevista TV Fórum

Conversei com a jornalista Cynara Menezes, na TV Fórum,...

Entrevista UOL

Concedi hoje entrevista ao UOL. Abordei a necessidade da...

Entrevista TV Gazeta

Em entrevista à jornalista Denise Campos de Toledo, da...

Entrevista Carta Capital

Conversei com o jornalista André Barrocal, da Carta Capital,...

Assine o Boletim Eletrônico

Assinando, você receberá em seu e-mail notícias e artigos atualizados do site.

A página eletrônica do Senador Renan Calheiros é um espaço para divulgar ideias, posicionamentos e opiniões do parlamentar alagoano. O endereço eletrônico www.renancalheiros.com.br é atualizado pela assessoria de imprensa e agrega artigos, discursos, notícias, projetos, além de dados biográficos da carreira política do senador.

Contato

Senador Renan Calheiros
E-mail: [email protected]
Senado Federal - Praça dos Três Poderes - Anexo I Ed. Principal 15º andar
BrasíliaDF - CEP 70.165-920
(61) 3303-2261 / (61) 3303-2263